sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

'Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?

Dizem que sonhos são apenas objetivos distantes de serem alcançados. O meu sonho tinha exatamente 224km de distancia. Não era muito, mas achei que iria demorar mais para realizar. No entanto, uma ligação no meio da madrugada e do sonho, virou realidade: eu iria conhecer o mar pela primeira vez.
E como em um ritual, eu me preparei, como se fosse ter o encontro mais importante da minha vida. Eu estava linda, completamente bela, e sinceramente quase tendo problemas de saúde de tanta ansiedade. 
Depois de horas na estrada, começo a sentir a brisa fresca e o aroma diferente no ar. Estou perto - penso. Exatamente 30 minutos depois me deparo com uma imensidão azul e parcialmente turbulenta.  Com os pés descalços na areia macia me aproximo cada vez mais das pequenas ondas, um sorriso largo e aberto apossou-se do meu rosto, e lá ficou até o medo bater. Senti a areia sob meus pés me levar para dentro daquela imensidão e então me deparei com um abismo diferente do que costumo me imaginar caindo. A água gélida batendo contra minha pele, a força como me chamava para dentro, como queria me consumir e ali findar qualquer pensamento ou sentimento. E então.. Em um impeto de audácia me entreguei completamente ao amor e furor das águas. Ao me perder em meio as ondas senti meu corpo ser amado de uma forma diferente, ser tocado pela natureza e minha alma ser lavada das impurezas trazidas até aquele momento. Quando ressurgir das águas, o ar que entrou nos meus pulmões era como a primeira respiração de um recém nascido. Ingenuo, livre de pensamentos ou qualquer desilusão com o mundo.  Somente a alegria predominava, a sensação de algo novo que só podia causar o bem se visto com carinho. 
Ao findar do dia fui vencida pelo cansaço, com dificuldade sai lentamente das águas, como se me despedisse do mar e da sua beleza. No entanto brutalmente em uma onda fui puxada, arrancada do meu porto seguro, e só então percebi que, no mar também há sentimentos agressivos e raivosos. Quando finalmente consegui sair dos seus braços, olhei para trás e vi novamente aquele abismo azul , contudo esse era dotado de vida. O mar não só demonstrava beleza e audácia, mas também impunha respeito e medo.