domingo, 16 de março de 2014

Loiro Aguado

Eram três crianças portando três sentimentos que nem mesmo elas entendiam: amor, ódio e inveja. Seria precipitado pensar que após anos, as mesmas crianças viriam a crescer e ainda continuar ligadas por esses sentimentos.
Cresci vendo ele ser dela. Era assim que tinha de ser. O melhor abraço, a melhor risada, o olhar mais penetrante. Sempre era tudo dela. E quando sobrava alguma migalha pra mim, era raiva por ela também me dar atenção. Era a raiva dele por ter a atenção tirada do assunto em que ele era o foco. Era o ódio por mim porque eu ganhava 5 minutos de atenção de todos por uma frase inteligente. Eu sabia que o amor dela por ele era imenso demais, incapaz de ser quebrado, perfurado ou arranhado. Era assim. Ele sendo dela.
Ela era a protagonista dessa história. O foco. Se havia drama, romance, intriga, afeto, prazer, qualquer sentimento, era voltado a ela. E no meio deste conto, eu era apenas a coadjuvante, deixada de lado para que a história dela fosse ainda mais focada. Focada junto a ele.
O fato, que eu gostava dele. Eu o achava engraçado, bonito, superinteressante. Até mesmo cativante e charmoso. Loiro, alto, forte, olhos verdes, barbado, cabelos encaracolados e compridos. Eu me sentia atraída por ele. Já ela... Minha melhor amiga. Seria o golpe mais forte dado pelas costas que alguém poderia receber. Mesmo ele não a amando como ela, pela minha amizade, ele ERA dela.
Fechei meus olhos durante 5 anos. Foram 5 anos o olhando com desprezo. Aprendi a menospreza-lo, a trata-lo com ódio, rancor, com nojo. Lá no fundo o tesão e a paixão por aquele que já podia ser chamado de homem, porem a todos a minha volta e para eu mesma, era o desprezo absoluto.


sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

'Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?

Dizem que sonhos são apenas objetivos distantes de serem alcançados. O meu sonho tinha exatamente 224km de distancia. Não era muito, mas achei que iria demorar mais para realizar. No entanto, uma ligação no meio da madrugada e do sonho, virou realidade: eu iria conhecer o mar pela primeira vez.
E como em um ritual, eu me preparei, como se fosse ter o encontro mais importante da minha vida. Eu estava linda, completamente bela, e sinceramente quase tendo problemas de saúde de tanta ansiedade. 
Depois de horas na estrada, começo a sentir a brisa fresca e o aroma diferente no ar. Estou perto - penso. Exatamente 30 minutos depois me deparo com uma imensidão azul e parcialmente turbulenta.  Com os pés descalços na areia macia me aproximo cada vez mais das pequenas ondas, um sorriso largo e aberto apossou-se do meu rosto, e lá ficou até o medo bater. Senti a areia sob meus pés me levar para dentro daquela imensidão e então me deparei com um abismo diferente do que costumo me imaginar caindo. A água gélida batendo contra minha pele, a força como me chamava para dentro, como queria me consumir e ali findar qualquer pensamento ou sentimento. E então.. Em um impeto de audácia me entreguei completamente ao amor e furor das águas. Ao me perder em meio as ondas senti meu corpo ser amado de uma forma diferente, ser tocado pela natureza e minha alma ser lavada das impurezas trazidas até aquele momento. Quando ressurgir das águas, o ar que entrou nos meus pulmões era como a primeira respiração de um recém nascido. Ingenuo, livre de pensamentos ou qualquer desilusão com o mundo.  Somente a alegria predominava, a sensação de algo novo que só podia causar o bem se visto com carinho. 
Ao findar do dia fui vencida pelo cansaço, com dificuldade sai lentamente das águas, como se me despedisse do mar e da sua beleza. No entanto brutalmente em uma onda fui puxada, arrancada do meu porto seguro, e só então percebi que, no mar também há sentimentos agressivos e raivosos. Quando finalmente consegui sair dos seus braços, olhei para trás e vi novamente aquele abismo azul , contudo esse era dotado de vida. O mar não só demonstrava beleza e audácia, mas também impunha respeito e medo.